sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A morte do poeta










Hoje deveria ser feriado, as pessoas deveriam ser dispensadas de seu trabalho. Os parques deveriam estar lotados de crianças brincando no playground e enamorados passeando de mãos dadas abraçados pelo carinho e conforto da natureza. Hoje deveria ser feriado.
A vida é um caminho muitas vezes cruel. O que parece ser um sonho por ora torna-se um pesadelo. O que era para ser uma nova vida torna-se a fria e amarga morte.
Você acredita na vida? Acredita realmente que ela vale a pena? Acredita que não é perda de tempo procurar o amor? A vida não é um conto de fadas. Os sentimentos são como bolinhas de gude: passam de mão em mão. Num mundo onde o que vale é ganhar, lucrar, tirar proveito, os sentimentos não têm valor. O que vale é o meu sucesso, a minha conquista, a minha vitória. O resto? O resto é resto.
Poetas são pessoas estranhas. Muito estranhas mesmo. Conhecem o amor, suas várias formas, como senti-lo e valorizá-lo. Poetas amam, mas... Poetas não são amados. Não há como explicar, porque poetas entregam flores, abrem portas de carros, deixam na porta de casa, fazem poesia. Poetas são poetas, e mesmo assim são solitários. Alguém conhece mais a decepção do que um poeta?
O poeta acreditou no amor e por isso começou a escrever poesias. Exaltando a beleza da donzela, sua doçura e carinho, mas descobriu amargamente que essa donzela não existe, que a vida real é diferente do sonho do poeta. E que sua donzela não é princesa, não é doce, não é romântica, não é meiga, não é donzela.
O amor só existe nos livros de poesia, nas histórias das novelas, nas músicas melosas e nos contos de cinderelas.
Hoje deveria ser feriado. Decrete-se luto nacional por 3 dias. Não morreu o presidente, o governador ou o prefeito, mas morreu o poeta. Ele acreditou enquanto pode, lutou enquanto teve forças, só que se rendeu, desistiu, aposentou a caneta, rasgou o papel. Sua última poesia foi só decepção, frustração e solidão, e iniciou-se com a dor de um coração despedaçado. Só que o poeta entendeu que a vida não lhe enganou, ele sim que foi tolo e ingênuo em acreditar no amor.
No velório do poeta estiveram presentes pessoas ilustres, presidentes, líderes religiosos, mega-executivos, grandes empresários, artistas e esportistas renomados, homens e mulheres poderosos. Todos queriam dar o adeus ao poeta. Ver pela última vez o seu rosto. Foi feito um discurso emocionante e uma jovem muito bonita de vestido florido e olhos cheios de lágrimas não saía de perto do poeta. Uns diziam que ele a amou como nunca havia amado outra pessoa. Outros que apenas saiu uma vez com ela. Já outros diziam que foi ela que o amou e ele não a quis. Outros o contrário. Uns que brigaram. Não sei a verdadeira história, só sei que estiveram juntos, faziam um lindo casal, pareciam se amar profundamente, o amor brotava de seus olhos, pareciam ter sido feitos um para o outro. Pareciam.
Me contaram que a última frase do poeta foi dita a uma enfermeira que cuidava dele no leito no hospital: “Eu a amei como nunca amei outra pessoa. Acreditei nesse amor, me entreguei por completo. Eu a amei”. Depois dessas palavras o poeta nos deixou. E os olhos da jovem inclinada no caixão do poeta traduziam essa dor. Ela parecia saber que nunca outro homem a havia amado tanto.
No atestado de óbito a causa mortis do poeta não foi ataque cardíaco, insuficiência respiratória ou outra causa conhecida. Uma doença muito rara matou o poeta. Mais mortal que o vírus HIV, o câncer e o Ébola. O poeta morreu de amor.