quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Eu também tenho um sonho
















Por Fernando Jesus


Em pleno mês da Consciência Negra no Brasil o sonho de um pastor norte-americano realiza-se: um negro é eleito presidente dos EUA (Estados Unidos da América). O nome desse pastor é Martin Luther King Junior. Sua luta contra o racismo se iniciou quando uma mulher (negra) foi presa por não querer dar o lugar em que estava sentada no ônibus a uma mulher branca. Absurdo? Sim, mas isso era, digamos, “normal” em 1955, numa época em que negros e brancos usavam banheiros públicos diferentes e quando um branco chegava o negro tinha que se levantar e dar o lugar a ele.
Você deve estar se perguntando quem foi o pastor Martin Luther King. Ele nasceu no dia 15 de janeiro de 1929 em Atlanta na Geórgia, filho primogênito de uma família de negros norte-americanos de classe média. Seu pai era pastor batista e sua mãe era professora.
Com 19 anos de idade Luther King se tornou pastor da Igreja Batista e mais tarde se formou teólogo no Seminário de Crozer. Também fez pós-graduação na Universidade de Boston, onde conheceu Coretta Scott, uma estudante de música com quem se casou. Em seus estudos se dedicou aos temas de filosofia de protesto não violento, inspirando-se nas idéias do hindu Mohandas K. Gandhi.
Em 1954 tornou-se pastor da Igreja Batista de Montgomery, Alabama. Em 1955, houve um boicote ao transporte da cidade como forma de protesto ao ato discriminatório ocorrido contra a passageira negra do ônibus citada na introdução. Luther King, como presidente da Associação de Melhoramento de Montgomery, organizou o movimento que durou um ano. King teve sua casa bombardeada. E foi assim que ele iniciou a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.
Em 1957 Luther King ajudou a fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC). Uma organização de igrejas e sacerdotes negros. King tornou-se o líder da organização, que tinha como objetivo acabar com as leis de segregação por meio de manifestações e boicotes pacíficos. Foi à Índia em 1959 estudar mais sobre as formas de protesto pacífico de Gandhi.
No início da década de 60, King liderou uma série de protestos em diversas cidades norte-americanas. Ele organizou manifestações para protestar contra a segregação racial em hotéis, restaurantes e outros lugares públicos. Durante uma manifestação, King foi preso, tendo sido acusado de causar desordem pública.
Em 1963 liderou um movimento massivo: “A Marcha para Washington”. O objetivo era a luta pelos direitos civis no Alabama, organizando campanhas por eleitores negros. Um protesto que contou com a participação de mais de 200 mil pessoas que se manifestaram em prol dos direitos civis de todos os cidadãos dos Estados Unidos. A não-violência tornou-se sua maneira de demonstrar resistência. Foi novamente preso, por diversas vezes. Neste mesmo ano liderou a histórica passeata em Washington onde proferiu seu famoso discurso “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”).
No ano de 1964 foi premiado com o Nobel da Paz. Os movimentos continuaram, e em 1965 ele liderou uma nova marcha. Uma das conseqüências dessa marcha foi a aprovação da Lei dos Direitos de Voto de 1965 que abolia o uso de exames que visavam impedir a população negra de votar.
Em 1967 King uniu-se ao Movimento pela Paz no Vietnã. Isso ocasionou um impacto negativo entre os negros. Outros líderes negros não concordaram com essa mudança de prioridades pelos direitos civis para o movimento pela paz.
No dia 4 de abril de 1968 Martin Luther King Juniors foi baleado e morto em Memphis, Tenessee, por um branco que foi preso e condenado a 99 anos de prisão. Em homenagem ao ano de aniversário de sua morte, à partir de 1983, a terceira segunda-feira do mês de janeiro foi decretada feriado nacional.
O que essa história de força, fé e coragem tem a ver conosco, brasileiros? Tudo. Martin Luther King foi assassinado, mas seus ideais e seus sonhos permanecem vivos. “Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!” – discursou King. Com a eleição de Barack Hussein Obama esse sonho começa a se realizar. Os negros são minoria nos EUA, ou seja, só com o voto deles Obama não seria eleito. Homens e mulheres de pele branca também votaram nele. Obama não foi julgado pela cor da sua pele, mas pelo seu caráter.
Eu, brasileiro, posso continuar fingindo que o racismo não existe, que os quilombos dos escravos hoje não se tornaram favelas, que a polícia da periferia trata o negro da mesma forma que a polícia da Avenida Paulista trata os executivos, que o vendedor e o segurança não ficam “mais espertos” quando um negro entra na loja do shopping, que nesse país o negro não é motivo de chacota desde os primeiros anos da escola.
Eu também tenho um sonho... Em ver extintas expressões racistas dos vocabulários.
Eu também tenho um sonho... De poder entrar numa loja no shopping e não ser visto com um olhar de que não tenho condições de comprar.
Eu também tenho um sonho... De ser julgado não pela cor da minha pele, mas pelo meu caráter.
Eu também tenho um sonho... Que um dia ninguém ficará surpreso ao saber que foi um jovem negro criado em favela, formado em escola pública e bolsista em Jornalismo que escreveu esse texto.
Eu também tenho um sonho.